Senhor
Presidente da Assembléia Geral,
Senhoras
e Senhores Legisladores,
Senhor
Presidente e Senhores Ministros da Suprema Corte de Justiça
Senhores
Presidentes e Chefes de Estado de países irmãos
Senhoras
e Senhores Chefes e membros de delegações internacionais
que nos honram com sua presença,
Senhores
Comandantes em Chefe das Forças Armadas
Autoridades
nacionais e departamentais.
Compatriotas
residentes no país ou no exterior que acompanham esta
cerimônia através dos meios de comunicação,
Senhoras
e Senhores:
Senhor
Presidente da Assembléia Geral,
Senhoras
e Senhores Legisladores,
Autoridades
Nacionais e Departamentais aqui presentes,
Senhores
Presidentes de países irmãos,
Senhoras
e Senhores Chefes e membros de delegações internacionais
que nos honram com sua presença,
Autoridades
de partidos políticos da República Oriental do Uruguai,
Compatriotas
residentes no país ou no exteriro que acompanham esta cerimônia
através dos meios de comunicação,
Senhoras
e Senhores:
De
acordo com o pronunciamento cidadão do dia 31 de outubro
passado e em cumprimento do disposto na Constituição da
República, realizei perante esta Assembléia Geral a
declaração de fidelidade constitucional que corresponde a
quem foi eleito para exercer a Presidência da República
durante o período que hoje se inicia.
Não
é esta uma cerimônia puramente protocolar. Bem pelo contrário,
a declaração de fidelidade constitucional não apenas dá
conta da maior honra a que pode aspirar um cidadão numa
sociedade democrática, como também implica o maior
compromisso daquele a quem a cidadania confiou
responsabilidades de governo.
Podem
Vs. Ss. ter certeza de que serei vertical e integralmente
conseqüente con a referida declaração.
Senhoras
e Senhores:
Esta
é a primeira vez que falo neste recinto e será com certeza
a última.
Seja-me
permitido então compartilhar com Vs. Ss. algumas idéias
que, expressas aqui e nestas circunstâncias, adquirem uma
especial significação.
Em
primeiro lugar, que não vim só. Chego à Presidência
da República junto com centenas de milhares de compatriotas
que no passado dia 31 de outubro se expressaram soberana e
democraticamente a favor de um projeto de país melhor para
todas
as uruguaias e todos os uruguaios.
Em
segundo lugar, que vimos de longe.
Inspiram-nos
e impulsionam-nos os princípios de liberdade, solidariedade
e igualdade de oportunidades para todos os uruguaios, tão
presentes no ideário de nosso pai Artigas e ainda hoje tão
plenamente vigentes.
Liberdade, ... porque a liberdade é um impulso que não garante a felicidade
humana, mas assegura a condição humana. Liberdade para ser
felizes, para ser independentes e ter interesses privados;
liberdade para colaborar na construção de um mundo onde a
ninguém seja negada a oportunidade e a ocasião de ser
feliz. Sem liberdade a igualdade é uma caricatura e a vida
não tem sentido.
Solidariedade, porque ela é o melhor componente da condição humana; aquela que nos
faz assumir o outro como um semelhante e a todos como nós
próprios.
Igualdade
perante a lei, mas também perante a vida. A
igualdade como direito básico e como mandato ético.
Quero
dizer também que embora venhamos de longe queremos ir
bem mais longe ainda.
As
nações não se constroem refugiando-se no passado, nem
resignando-se ao presente, nem renunciando ao futuro. O que
faz apassionante esta complexa mas bela criação humana que
é a sociedade democrática é que ela nunca será perfeita,
mas que sempre é perfectível.
Não
somos os donos do passado de nosso país mas também não
somos alheios a ele. A força política que me honrou com a
candidatura
ao cargo que hoje assumo tem raízes mais que centenárias e
sua trajetória, como as dos outros partidos, tem sido uma
contribuição para a construção do Uruguai de hoje, que não
é outra coisa que o Uruguai que as uruguaias e os uruguaios
temos podido construir ao longo de gerações.
A
história não tem fim, mas como a história se constrói
também com opções cotidianas, quero dizer aliás que temos
o firme propósito de percorrer esse longo caminho que está
a nossa frente junto com todas as mulheres e todos os homens
deste país.
Porque
assim como as nações se constroem entre todos, as mudanças
transcendentes tambén têm de envolver a todos.
O
governo que hoje assume funções tem sinais de identidade
bem definidas e certamente seu acionar será coerente com os
valores, os princípios e as propostas que o inspiram pois,
entre outras razões, essa é a vontade cidadã expressa no
dia 31 de outubro passado.
Mas,
também, este governo será o governo de todos os
uruguaios.
De
todas as uruguaias e de todos os uruguaios por cima de raça,
idade, lugar de residência, identificação ideológica,
credo religioso, filiação política ou condição social.
Nesse
sentido, seja-me permitido reiterar nesta oportunidade a
especial transcendência que adjudico aos acordos em matéria
econômica, exterior e educativa entre o novo governo que
hoje se inicia e os partidos políticos oficializados em 16
de
fevereiro
passado neste edifício sede do Parlamento Nacional.
Seria
ingênuo esperar de tais acordos efeitos milagrosos. Mas
seria imprudente desconhecer sua significação como expressão
de vontade e compromisso político daqueles que o
subscreveram com a República.
Seja-me
permitido dizer também que sem prejuízo da importância
desses acordos, o governo que hoje assume considera que as
mudanças que o Uruguai reclama e merece não precisam
apenas de
sustento político como também de sustento social. E que
agirá em conseqüência.
Atrás,
definitivamente atrás, ficaram os tempos dos governos
pretendidamente iluminados e substancialmente distantes;
agora os homens e as mulheres deste país assumem o direito
inalienável e a responsabilidade inexcusável de ser os artífices
de seu próprio destino ...
Senhoras
e Senhores:
Não
ignoro o contexto mundial, regional e nacional em que assumo
a responsabilidade de governo que a cidadania uruguaia me
confiou.
Sou,
também, plenamente consciente tanto das dificuldades quanto
dos desafios, das possibilidades e das expectativas
existentes no referido contexto.
Acredito
que diante desta realidade, nestas circunstâncias e por uma
razão de elementar respeito ao povo uruguaio, a Vs. Ss. e a
mim próprio, sobram os relatos enciclopédicos, as
análises
ecumênicas e as promessas ambíguas.
No
entanto, por esta mesma razão considero necessário que, numa
linha de continuidade com a declaração de fidelidade
constitucional já realizada, eu reitere meu compromisso de
trabalho.
Meu
compromisso de trabalhar ao extremo máximo de minhas aptidões,
potestades e possibilidades na construção de um projeto
nacional de desenvolvimento produtivo e sustentável.
Meu
compromisso de trabalhar incansavelmente pelo Uruguai
Social, Produtivo, Inovador, Democrático e Regionalmente
Integrado que,
como as caras de um poliedro, comformam uma única estratégia
de país para todos os uruguaios.
Meu
compromisso de hierarquizar o Poder Legislativo que reside
nesta casa como âmbito representativo da vontade cidadã, como órgão de
controle, como espaço de debates mas também de acordos
democráticos imprescindíveis para construir uma nação.
Meu
compromisso de respeitar e apoiar o Poder Judiciário em sua condição de poder estatal independente e, ao mesmo tempo,
garantir sua independência económico/financeira.
Meu
compromisso de hierarquizar os governos departamentais tanto em sua representatividade cidadã quanto em suas
responsabilidades com a cidadania.
Meu
compromisso de combater implacavelmente a corrupção
e qualquer outra modalidade de gestão negligente do Estado.
Meu
compromisso de instrumentar políticas que ofereçam a nossa
gente possibilidades de trabalho decente.
E
em estreita relação com o anterior, meu compromisso de
promover políticas educacionais, científicas e tecnológicas
que preparem nossos homens e mulheres, e em especial os mais
jovens, para esse trabalho decente que é, afinal, a melhor
política social e a melhor política econômica que possa
ter um país.
Meu
compromisso de promover uma política ativa em matéria de
Direitos Humanos.
Reconheçamos
que a 20 anos de recuperada a institucionalidade democrática
ainda subsistem em matéria de direitos humanos zonas
obscuras.
Reconheçamos
também que em prol do bem de todos é necessário e possível
esclarecê-las no quadro da legislação vigente, para que a
paz se instale definitivamente no coração dos uruguaios e
que a memória coletiva incorpore o drama de ontem, com suas
histórias de entrega, sacrifício e tragédia, como uma
indelével aprendizagem para amanhã. E com a verdade
procuraremos que nossa sociedade recupere a paz, a justiça
e, sobretudo, que o horror de outras épocas nunca mais
volte a acontecer. Nunca mais.
E
reconheçamos, aliás, que também há muito a fazer em matéria
de igualdade racial, equidade de gênero, direitos da criança,
direito à informação, direito à cultura, direito a um
meio ambiente seguro ... esses também são Direitos Humanos
e têm a ver com a qualidade da democracia.
Meu
compromisso de ouvir as pessoas, de dialogar com elas, de
prestar-lhes contas, de promover uma cidadania que
potencie os direitos políticos, civis e sociais das
uruguaias e dos uruguaios.
Emfim;
meu compromisso de trabalhar pelas mudanças propostas
durante a campanha eleitoral e que a cidadania respaldou com
seu voto.
Respaldo
que deve ser respeitado por todos e que quem fala assume
como um mandato.
Atrás,
definitivamente atrás, ficou o tempo dos "mandatos
presidenciais" amnésicos respeito da vontade de seus
"mandantes" e das necessidades de seus
"mandatados".
Prometemos
mudanças e faremos mudanças. Começando pelo próprio
governo, em sua atitude, em suas ações, fundamentalmente
no que se refere à austeridade, ao respeito, ao diálogo,
à tolerância e à modalidade de trabalho cotidiano.
Mudanças
impostergáveis; mudanças factíveis; mudanças responsáveis;
mudanças progressivas; mudanças entre todos e para todos,
mas especialmente em benefício daqueles que mais as
necessitam para atingir níveis de vida digna.
Senhoras
e senhores:
Seja-me
permitido agora fazer algumas referências específicas.
A
primeira delas, aos ilustres Chefes de Estado,
representantes de governos, organizações da sociedade
civil e
personalidades
de países irmãos e amigos que nos acompanham.
Obrigado,
muito obrigado por sua presença em um país em que
desejamos se sintam como em casa e por acompanhar-nos em
este dia tão transcendente para o Uruguai.
Apreciamos
sua atitude e corresponderemos a ela instrumentando uma política
externa independente, de Estado, e baseada em:
n
a adesão ao Direito Internacional e especialmente o pleno
respeito à soberania dos Estados, a defesa e promoção
dos
Direitos Humanos, a solução pacífica de controvérsias,
o princípio de não
intervenção, a autodeterminação dos povos,
o universalismo nas relações internacionais e a
defesa e
promoção da democracia.
n a firme rejeição a todo tipo de terrorismo,
violência e
discriminação.
n
o compromisso com o MERCOSUL e o caráter prioritário do processo de integração como
projeto político estratégico na
agenda internacional do Uruguai.
Isto
nós já dissemos muitas vezes e o dizemos agora mais uma
vez: o governo que hoje assume quer mais e melhor
MERCOSUL.
Um
MERCOSUL ampliado, redimensionado e fortalecido que será
por sua vez uma plataforma mais sólida para
conseguir uma
maior inserção internacional tanto do bloco em si
como de todos seus integrantes.
n
Sem prejuízo do anterior, desenvolveremos ativamente nossas
relações
com todos os outros países latino-americanos -
todos, sem excepção nenhuma, pois de todos eles nos
sentimos igualmente irmãos por nossa comum condição
latino-americana-, contribuiremos com nossa convicção e nossa vontade para dar
um novo impulso às Cúpulas Ibero-americanas, à rápida e
melhor concreção do Tratado de Associação com a União
Européia, ao melhor relacionamento com outros blocos
regionais já existentes ou em formação bem como ao
desenvolvimento da cooperação sul-sul.
Nossa
integração ao mundo tampouco ignorará a relação com os
órgãos financeiros internacionais. Também neste
terreno, desde o cumprimento das obrigações contraídas
pelo país, promoveremos uma relação de mútuo respeito
que leve em conta as necessidades e o direito ao
desenvolvimento da sociedade uruguaia no seu conjunto.
Emfim,
a política externa do governo que hoje inicia suas tarefas
se nutrirá das melhores tradições que fizeram do Uruguai,
no passado, um país respeitado pela comunidade
internacional.
Respeitado
não por suas dimensões nem por sua força, mas por sua
atitude de vanguarda e por sua coerência na afirmação de
princípios éticos, de direito e de justiça na relação
entre as nações.
Resgataremos
esse legado e daremos prioridade às Nações Unidas como âmbito
de afirmação da vigência do direito internacional e do
multilateralismo.
E
num mundo dilacerado pela desigualdade e a fome,
comprometemos
todos nossos esforços para que a Agenda do Desenvolvimento,
que tem um de seus principais fundamentos na Declaração do
Milênio das Nações Unidas, seja preeminente face a uma
Agenda da Segurança cujos discutíveis resultados estão à
vista ...
Senhoras
e Senhores:
A
segunda referência que quero fazer está dirigida a três
setores específicos da sociedade uruguaia: nossos
jovens, nossas mulheres e nossos compatriotas que moram no
exterior.
A
nossos jovens, não apenas porque são nosso melhor vínculo
com o futuro como também -e principalmente- porque são
eles próprios. Não temos a ridícula e perigosa pretensão
de construir o futuro em nome dos jovens, queremos sim
construí-lo com eles; queremos contar com suas esperanças,
com sua alegria e sobretudo com sua rebeldia e seu
compromisso.
Às
mulheres uruguaias, para quem o "... não mais
deveres sem direitos nem direitos sem deveres..." que
em 1884 proclamou uma trabalhadora chamada Mercedes,
continua sendo um objetivo que compartilhamos e assumimos.
E
a nossos compatriotas que moram no exterior porque a pátria
peregrina é peregrina, mas sobretudo é pátria ...
Senhoras
e Senhores:
Entre
as múltiplas peculiariedades que apresenta a história
das
nações latino-americanas há uma especialmente trágica: a
solidão em que morreram tantos precursores de nossa
independência.
José
Artigas foi um deles. Traído e derrotado em 1820, viveu
exilado em nossa irmã República do Paraguai até sua morte
em 1850. Esse exílio foi uma forma de longa agonia, uma
crucifixão de 30 anos que Artigas suportou em silêncio,
sem um lamento, sem uma palavra de censura...
Diz
a história que alguém foi visitá-lo atraído por seu
passado como Chefe do Povo Oriental e Protetor dos Povos
Livres. Ao recebê-lo, o velho General perguntou-lhe com uma
mistura de tristeza e manha: "...Então meu nome
ainda soa por lá...?"
Senhoras
e senhores:
Sinto
que não posso encerrar esta intervenção -com certeza a última
que farei ante Vs. Ss. e neste recinto- sem responder a
pergunta de nosso pai.
Claro
que seu nome "ainda soa"!!
E
soa forte.
O
nome de José Artigas nos impulsiona e convoca.
Seu
exemplo nos inspira e compromete.
E
em nome desse compromisso, ao expressar aqui minha
fidelidade
constitucional como Presidente da República,
convido Vs. Ss. desde meus sentimentos, minhas convicções
e minhas responsabilidades, a trabalhar na construção de
um Uruguai onde nascer não seja um problema, onde ser jovem
não seja suspeito, onde envelhecer não seja uma condena;
um Uruguai onde a alimentação, a educação, a saúde e o
trabalho decente sejam direitos de todos e todos os dias; um
Uruguai confiado em si próprio; um Uruguai que recupere sua
capacidade de sonhar e de fazer seus sonhos realidade.
Muito
obrigado.
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